Pesquisadores identificam vídeos mais recomendados pelo Youtube nas eleições de 2018

As eleições aconteceram, estamos sob um novo governo, mas ainda nos perguntamos como chegamos até aqui e qual foi o papel efetivamente desempenhado por esta grande e complexa máquina de comunicação que funciona atualmente. Parte das respostas é dada por pesquisas como a que  está sintetizada no artigo apresentado no VIII Congresso da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política (VIII COMPOLÍTICA), que teve como tema “Política e Comunicação Pós-Eleições no Brasil“.

Nele, as professoras do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Territorialidades da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Ruth Reis e Daniela Zanetti e o doutorando da Concordia University (CA) Luciano Frizzera mostram quais conteúdos o Youtube apresentou aos seus usuários durante o período eleitoral. Esta pesquisa é parte do projeto Eleições 2018, que teve participação de diversos pesquisadores.

O artigo “Algoritmos e desinformação: O papel do YouTube no cenário político brasileiro” revela a forte presença dos temas da campanha do candidato Jair Bolsonaro e a predominância do discurso conservador que marcou sua trajetória até a presidência do Brasil e destaca também que os canais produtores ou replicadores de conteúdo que mais apareceram foram canais de programas vinculados a grupos de mídia tradicional como Jovem Pan News e Pânico Jovem Pan (grupo Josem Pan), Roda Viva (TV Cultura SP) canais nativo digitais como o Verdade Política, que se colocou como o segundo mais recomendado.

Foram analisados mais 764,2 mil recomendações de 42 mil URLs de vídeos coletados por um sistema automatizado desenvolvido a partir de script elaborado pela Algo Tranparency para monitorar as recomendações do Youtube. Os resultados estão disponíveis no endereço http://labs.fluxo.art.br/rankflow-brasil/ criado para visualização das buscas, que estão disponíveis para ser acessados para consulta e outras pesquisas. Destaque-se que muitos vídeos já não se encontram mais nas mesmas URLs, mas podem ser encontrados em outras buscando-se pelo título. A razão da retirada dos vídeos é motivo de curiosidade, mas não foi pesquisada neste momento.

A coleta de dados foi realizada entre 23 de agosto e 29 de outubro de 2018 e considerou os vídeos mais recomendados pela plataforma durante as eleições presidenciais de 2018 a partir de busca dos nomes de 9 principais candidatos.  Foram computadas para um total de 42,4 mil URLs de vídeos

O uso das plataformas de redes sociais na internet em campanhas políticas é inevitável e cada vez mais intensivo, mas devido ao cenário eleitoral de 2018, pode-se observar como os usuários foram impactados por conteúdos hiperdirecionados criados por algoritmos de plataformas como o Youtube que é a plataforma de vídeos online mais utilizada no país, com 1,9 milhão de usuários.

O estudo traz apontamentos sobre os modos de ação desta plataforma no cenário político eleitoral brasileiro, a atividade dos algoritmos e as estratégias dos actantes – sejam eles humanos ou robôs.

Segundo a professora Ruth Reis a baixa transparência dos algoritmos dificultam a compreensão dos critérios adotados por todas as plataformas para construir um sistema de seleção e recomendação, mas o que se observa é que os vídeos que o Youtube apresentou além de favorecer apenas um candidato, são, em muitos casos, de cunho preconceituoso. Este tipo de desempenho  da plataforma favorece a disseminação de uma espécie ‘pensamento único’ que não representa a diversidade de opiniões existente no Brasil.

“É como se o Youtube, ao responder as buscas dos usuários, selecionasse uma coleção de vídeos ligados por correlações pouco claras e ficasse trabalhando apenas com aquele conjunto, formando uma espécie de galáxia semântica que é recuperada a cada busca sem grandes alterações, mesmo que novos conteúdos sejam postados ou que alguns ganhem mais visualizações. Este conjunto tende a formar um núcleo que corresponde aos vídeos mais recomendados, que também tende a se repetir, o que causa este efeito de uniformidade, estimulando a polarização e os comportamentos intolerantes”, analisou Ruth Reis.

A professora Daniela Zanetti reforçou que “além de chamar a atenção para os riscos da desinformação, o trabalho aponta para a necessidade de se compreender melhor a dimensão da linguagem e dos conteúdos audiovisuais e as estratégias adotadas nos processos de conquista de audiência”.

“Possivelmente hoje não podemos mais afirmar que podemos viver sem os algoritmos, pois a produção de conteúdos é tão gigante que é impossível selecioná-los humanamente. Isso faz com que aumente a responsabilidade pela produção de sistemas autômatos mais coerentes com valores relacionados à diversidade e à democracia”, apontou Luciano Frizzera.

 
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