De TCC a Festival Internacional: as histórias das portadoras de Alzheimer dos asilos de Vitória

“Eu gosto muito de praia” é a primeira fala de uma das entrevistadas para o documentário “Como areia no mar”, do aluno egresso Raphael Sampaio. Agora, imagine chegar ao estágio de esquecer até o que mais se aprecia. O documentário realizado para a conclusão do curso de Cinema e Audiovisual conta com delicadeza e uma excelente produção a história de idosas diagnosticadas com o Mal de Alzheimer que vivem em asilos da Grande Vitória e recentemente foi selecionado para o 28° Festival Internacional de São Paulo.


Raphael revela que visitou vários lares de idosos durante os seis meses de aproximação das protagonistas, sendo sempre bem recebido, tanto pelas senhoras, quanto pelos dirigentes do espaço e ainda ressalta a carência vivida pelos moradores dos lares. No filme, inclusive, uma das personagens fala da alegria que é quando os estudantes levam música e dança ou vão ouvir suas histórias.

A ideia de gravar essas mulheres surgiu do questionamento do número gigantescamente superior de casos de Alzheimer atingir às mulheres em relação aos homens.  O diretor ressalta uma fonte de informação em especial: “numa pesquisa mais aprofundada, descobri um estudo feito na Gothenburg University  que aponta o fator de estresse psicológico e a angústia como uma das possíveis causas do Alzheimer”.

Seguindo essa linha de pensamento, Raphael trabalhou com maestria a visualidade háptica, uma forma de filmagem usando lentes macro que ficam “cravadas” na pele do depoente, “ a rugosidade da pele e as manchas características saltaram aos olhos do espectador, fazendo com que a fragilidade da idade fosse ‘sentida’ por quem acompanha o filme” explica. O filme ainda traz a ideia de fotografar  poucos corpos, sem revelar suas identidades, como se todos outros corpos do contexto vivessem aquela realidade retratada.

Sobre a produção do filme, ele aborda a dificuldade obtida em trabalhos independentes que não contam com orçamento e que entre o tempo de pesquisa  e de gravação, cerca de um ano, “o contato e bom relacionamento com a família delas foi essencial no processo, eram eles que traziam valiosas imagens de arquivos e permitiam a nossa aproximação” afirma Sampaio. Ainda cita o aprendizado que se recebeu no período das visitas, mesmo que elas não se lembrassem quem eram eles, gostavam e não se importavam em descrever suas histórias, além de a equipe se organizar e estudar horários e períodos de tempo para essas conversas e a forma de abordagem “para deixá-las mais confortáveis durante o processo foi de gravar somente o som a priori” comenta o diretor.

“Como areia no mar” é repleto de uma linguagem diferenciada e de montagem, sempre trabalhando o som, a cor e a sensibilidade do assunto. É completamente preenchido pelas histórias dessas mulheres fortes e recebe auxílio de músicas e sonoridade bem encaixadas, tais como o silêncio e o mar.

O trabalho recebeu elogios dos professores, entre eles o orientador Klaus’Berg Bragança “o filme tem um resultado surpreendente, o diferencial é todo um trabalho muito autoral, com uma estética bem distinta, um trabalho de montagem muito bem elaborado, que sai do campo estético e entra no campo emotivo convidando o espectador a passar essa barreira”.

Tamanha qualidade fez com que o projeto fosse selecionado para o Festival Internacional de Curta-Metragem de São Paulo que será realizado entre os dias 23 de agosto e 3 de setembro de 2017. Sobre isso, o artista fala com orgulho da representação do cinema capixaba e como o curso ofertado na Ufes tem ajudado no crescimento acelerado que está acontecendo.

Essa não é a primeira vez que um filme feito por alunos da Ufes é selecionado para esse festival. No ano passado, a aluna Caroline Covre participou do evento com o filme “Córrego Grande, 13” em que a diretora e seus avós conversam sobre fotografias e um futuro museu.

Caroline produziu o filme para a conclusão do curso em 2015 e no ano seguinte estava no festival. E ainda neste ano a cineasta já trabalhava numa produção com a professora Gabriela Alves contando histórias e dando visibilidade às mães da Penitenciária Feminina de Cariacica, ampliando as produções de artistas e movimentando o setor no estado.

Confira aqui a entrevista completa.

Ficha Técnica:

Raphael Sampaio – direção, produção e roteiro

Bipe Couto - produção e assistente de direção

Adryelisson Maduro - produção

Willian Rubin - direção de fotografia e coloração gradind

 Lucas Danto- som direto

Gabriela Sampaio e Ricardo Ton - mixagem e edição de som

 Deyvid Martins - Trilha sonora

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